Eu passei por uma experiência desgastante no ano passado. Pra falar a verdade não sou daquelas que contam toda história da vida para um estranho quando estão na sala de espera do médico, falando a verdade mesmo nem suporto gente assim (tenho ouvidos cronicamente cansados de gente faladora). Mas tem coisa que vale a pena compartilhar. Essa história não é uma delas, mas como deu vontade vou contar pra vocês mesmo assim.
Bem, sem muitos detalhes, a história começa quando precisei tomar um remédio para diminuir a ansiedade. Tudo bem até aí, mas o maldito remédio, além de cumprir o papel de ajeitar minhas neuras, fez-me o favor de desacelerar meu metabolismo me garantindo um ganho de peso de 10 toneladas (leia-se quilos, gosto de exagerar nessa parte).
É amigos, já pensou como é isso? Um dia magra e no outro ano 10 arrobas espalhadas pelo corpo. Não fique aí julgando que eu engordei porque comi muito ou por preguiça de fazer exercícios. Pelo contrário, diminui comida, larguei o sedentarismo (que me acompanhou desde o nascimento) e me joguei na maromba: caminhadas, corridas, aulas de dança, mas continuei engordando. Larguei de lado meu preconceito e mergulhei na academia. E querem saber: continuava engordando.
Sim eu parei o remédio. Não, diferente de tudo que todos os médicos falam, eu não voltei ao peso anterior.
Continuei exercícios, dieta e perdi míseros 2 quilos e meio. É, pra quem estava só em processo de expansão, não se pode reclamar. Mas estava determinada a enxugar a silhueta, foi então que decidi ir a um endocrinologista.
Juntei grana, paguei horrores em exames. A desconfiança era um desajuste na glândula tireóide. Nada. Tudo ok. Exames de sangue de dar inveja em qualquer um (tanto exercício tinha que me servir para alguma coisa).
Em posse da papelada (exames) fui à tão esperada consulta. Me enchi de expectativas (pouco me fudendo pra vocês aí falando que a gente não deve esperar muito das coisas). Aquela consulta era a luzinha no fim do túnel, o oásis no deserto, era um médico falando o que eu poderia fazer além das dietas e dos exercícios para emagrecer e voltar ao peso lindo que eu tinha antes de tomar o maldito remédio.
Posso falar? Me lasquei! A consulta foi digna de um filme de comédia (de quinta categoria).
O médico me pesou, mediu minha pressão, olhou meus olhinhos, apalpou minha pança. Perguntou o que eu comia.
_Evito frituras, açúcar. Eu gosto de verduras, legumes, procuro comer bem colorido (já ouvi que isso é indicado). E como de 03 em 03 horas pouca quantidade.
Aí eu notei que ele revirou os olhos. Isso! Revirou os olhos na minha cara‼! Bateu uma puta vontade de chorar, mas eu segurei e afirmei com veemência que não estava mentindo (já me senti ridícula nessa hora e pressenti que ia dar merda).
Contei que como um pedaciquinho de chocolate (meio amargo) depois do almoço (uma barra dura cerca de 15 dias pra mim). Ele quase teve um orgasmo de razão e me jogou na cara que deveria ser isso que estava atrapalhando as horas na academia e a dieta restritiva. É amigos, por causa de meia grama de chocolate que eu estava com toda dificuldade do mundo de emagrecer.
Como sou cliente sincera, contei que abusava no final de semana comendo pizza e tomando uma cervejinha com meu broto. Quantas garrafas? Umas duas ou três (tem dias que a gente tá mais feliz, né?).
_Diminua isso! Evite pizza que levam calabresa e bacon!
_Mas eu como mais a vegetariana.
Mais olhos se revirando na minha frente (abusado!) e mais meus olhos se enchiam de lágrimas com a desconfiança do médico com minha dieta.
Merda. Essa consulta não acabava era nunca! Daí ele tinha uns 300 papeis impressos em cima da mesa com uma dieta maluca lá que ele retirou do site do adoçante Finn. Isso mesmo, olhando cuidadosamente a folhinha de papel lê-se quase apagadinho a marca do adoçante. Não bastasse ele ainda olhou para minha cara e deve ter me achado muito idiota (eu tenho cara de idiota, amigos?) e me pediu para ler a dieta, assim, como se ele quisesse atestar minha capacidade de compreensão de uma bosta de papel constando uma dieta.
Nessa hora eu realmente fiz cara de bunda. Li só para mim e fiquei me perguntado se era pra falar em voz alta (muito ridículo). Aí eu disse apenas um sonoro: “Humm… entendi a dieta” (ai Deus, acaba logo com essa tortura, quero ir pra casa). Não. Era pra ler em voz alta o que eu iria tomar no café da manhã.
_Desjejum: Pão francês, 01 unidade, ou qualquer alimento do quadro 01
_ Agora leia por favor o quadro 01 que está do outro lado da folha
(puta que pariu, devo ter cara de alga marinha)
_Quadro 01: pão integral, 02 fatias, pão de forma, 02 fatias, pão de merda (não falei isso, só pensei), pão disso, pão daquilo…
Acaba logo consulta.
Daí que ele achou que minha dieta era muito certinha e resolveu me perguntar o que eu beliscava.
_Eu não costumo beliscar. Como de 03 em 03 horas (já te falei isso filho da mãe).
_Mas o que você belisca, come de vez em quando?
Tô falando grego? Que porra é essa? (eu já xingava muito mentalmente nesse momento). Pra acabar logo aquela tortura psicológica que ele deve ter aprendido na ditadura militar eu concordei e inventei meus possíveis belisquetes.
_Ah! Eu como biscoito, bolacha e biscoito aí bolacha e tal.
_Então você vai evitar comer esse tipo de coisa fora de hora.
Oh! Gênio‼!
E quando eu já preparava a bundinha para levantar da cadeira ele pegou o receituário e me prescreveu um remédio tarja preta.
_Isso aqui vai tirar sua ansiedade e um pouco da fome. Vai te ajudar com sua COMPULSÃO por comida.
Filho da puta! Compulsão por comida???
E assim eu saí da sala, enquanto abria a porta ele ainda me falava sobre tomar refrigerante zero e outras coisas que fingi escutar e concordar. Com a graça de Deus meu broto me esperava para me dar uma carona de volta pra casa (e de quebra aquela força). Chorei litros! Solucei, perdi o fôlego. Mas como tudo tem sua graça e desgraça, hoje isso me faz rir.
A receita do remédio vou guardar como souvenir desse dia. Apesar de ele ser o graduado em medicina, segui meu instinto e achei que não precisava/preciso dele. A dieta também está aqui, intacta. Não a segui, por isso não posso falar se funciona ou não. Como estava estressada com a pressão de emagrecer parei com a dieta e diminui os exercícios. Adivinhem? Perdi peso.
Não estou levantando a bandeira contra os médicos, nem dando lição de moral e muito menos de vida. Só contando uma experiência que passei que tenho certeza não servirá pra nada em sua vida.
E esse foi o dia que entrei em uma consulta pedindo ajuda para perder alguns quilinhos e saí com o diagnóstico de compulsão alimentar. Se eu fosse o Galvão Bueno perguntaria: _Pode isso Arnaldo?
Beijos, amigos!
Por Naiara