segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Prefiro Não Ser um Super-Homem


Qual garoto que, quando criança, não deseja ardentemente ser o Super-Homem, ou ao menos possuir alguns de seus incríveis poderes?

Afinal, ignorando o fato de que o cara vestia uma sunga por cima da roupa, simplesmente não havia obstáculos impossíveis para ele, além disso, sabia conjugar a força suprema e a placidez de um tímido, era admirado por todos e, sempre nos momentos derradeiros, inevitavelmente conquistava o amor da mais bela e casta mulher da paróquia...

Não nos esqueçamos ainda que ele possuía o poder desejado por todo adolescente no auge de seu furor “testosterônico”, presenteado pela presença não voluntária de uma colega de classe no mínimo admirável: a visão de Raio-X...

Enfim: O cara era foda!

Entretanto, muito além dos desejos ficcionais reprimidos, não seria exagero afirmar que o mundo atual exige de nós algumas qualidades de super-heróis, não que tenhamos de derrubar paredes com um simples olhar, mas necessariamente temos de ostentar a aparência da perfeição.

E a perfeição, em nossos dias, significa que temos de ser felizes a qualquer custo, caiu de moda ser um reles mortal, sobretudo para nós, homens...

Hoje, admiramos e temos por objetivo ser uma pessoa que ao menos aparenta possuir uma cabeça aberta, ser o mais inteligente, ter um corpo sarado, estar a todo o momento de bem com a vida, possuir relacionamentos amorosos irrepreensíveis, possuir a melhor casa, o melhor veículo e ter o emprego dos sonhos...

Aí nasce o mito do Super-Homem, afinal, quem não gostaria de possuir as prerrogativas necessárias para romper com qualquer infortúnio?

A cobrança pela felicidade suprema vem de todos os lados: é o terapeuta irresponsável que nos incute teses ultrapassadas, as publicidades de bancos privados que associam ganhos financeiros ao sucesso na vida afetiva, ou mesmo aquela vizinha fofoqueira ou aquela tia mal-amada sutilmente torcendo por nossa queda, mas, sem dúvida alguma, o pior dos algozes está diante do espelho: somos nós mesmos!

Ora, se forçamos bem os ouvidos, é até possível escutar veladamente as instruções que veem lá de fora, incitando-nos à perfeição:
- Meu caro, seja um Super-Homem! No mundão velho de hoje não há mais espaço para derrotas, frustrações e tristezas...

Como resultado injusto de tudo isso, entramos em um ciclo vicioso: sentimo-nos frustrados por não sermos perfeitos, mas realizamos tudo que nos era possível... Sem maiores explicações concluímos que o sucesso não foi alcançado, mas ignoramos que a derrota é consequencia de nossas falhas naturais de seres-humanos, aí vem a depressão!

Não sem outra razão, lotamos os consultórios de psicoterapia, tomamos pílulas e mais pílulas para aplacar nossa dor de imperfeitos, procuramos ajuda religiosa de líderes espirituais de reputação duvidosa e alguns passam até a acreditar na influência dos astros celestes...     

Mais do que depressa, vemos pulular e proliferar receitas certas e fáceis para a felicidade, livros de auto-ajuda e programas televisivos matinais dão a fórmula infalível para puxar o tapete do chefe, conquistar o homem/mulher dos sonhos e ser uma máquina do sexo, tudo regado por uma lógica digna de folhetim novelístico: enfim, uma verdadeira catástrofe!

Não creio, sinceramente, que exista uma forma correta de viver, que exista um plano cartesiano previamente ajustado como fórmula para a vida ideal, sob pena de sermos considerados eternos fracassados...

A vida é muito mais do que isso...

Não que devemos chegar ao ponto de simplesmente ignorar o mundo, não, não é isso...  Basta, contudo, que saibamos cultivar boas e sinceras amizades, saber dar o devido valor aos nossos familiares, acolher com companheirismo seu parceiro/parceira, não negligenciar um sorriso a quem precisa e ter em mente, sempre, que as conquistas materiais, conquanto estimulantes, é um meio, não um fim em si mesmo.

Portanto, deixemos o Super-Homem limitado aos quadrinhos, sejamos pessoas humildes, mas ricas em honestidade, saibamos dar o devido valor ao dinheiro e tenhamos sempre em mente que somos pessoas normais, falhas naturalmente.

Não há, pois, qualquer dúvida de que a exigência pela perfeição do Super-Homem leva à angústia de sermos pessoas normais.

Texto do leitor Bruno Ruas

2 comentários:

Eu, uai disse...

Porran...

25/10/11
Viviane Pinho disse...

Excelente texto!!!

25/10/11