quinta-feira, 8 de março de 2012

O palhaço no semáforo

Passava de carro em direção à faculdade, quando, numa parada no semáforo, iniciou-se o show de malabarismo de um palhaço. Ele era jovem, moreno dos cabelos lisos que escondia debaixo de um chapéu, o rosto muito bem pintado, uma blusa laranja escura de mangas compridas e um macacão verde com muitos remendos coloridos. Usava um tênis de cada cor – um vermelho e um amarelo – e cadarços roxos. Com o sol impiedoso da cidade, soava a bicas enquanto jogava os pinos ao ar e aparava, colocava um entre as pernas e retirava lançando os outros, depois com uma mão só e por fim jogava um dos pinos muito alto, fingia que iria cair para no último segundo aparar, rente à cabeça.


Terminou retirando o chapéu verde fluorescente e fazendo uma reverência acompanhada de um imenso sorriso. Ninguém além de mim aplaudiu. Tocava uma música que, se não me engano, era evangélica no seu carrinho de som que estava parado na calçada. Com o chapéu na mão ele passou entre os automóveis, colhendo os poucos centavos de lucro pelo seu rápido espetáculo circense. Chegou até mim e estendeu o chapéu. Eu não tinha dinheiro, nem mesmo uma moeda. Em minha carteira, apenas uma nota de 10 reais que já estava com seu destino programado para aquela tarde. Expliquei isso a ele, que com um sorriso muito grande, disse: “Não tem pobrema. Feliz dia das muié.”

Sorri de volta e ele se afastou. De repente me lembrei de que já o havia visto antes: uma vez num evento de pediatria em que participei, cantando e entretendo uma reunião de muitos médicos experientes, alguns ao ponto de já nem saberem dar uma risada. Outra, no hospital, na ala da pediatria, quando meu afilhado estava internado. Ele fazia festa com as crianças, deixava que elas puxassem seu nariz redondo de palhaço e colocassem em si mesmas. Meu pequeno Bernardo, apesar de abatido pelos dias de hospitalização, deu belas gargalhadas com a voz que ele fazia enquanto retirava flores do bolso de um paletó surrado e distribuía às enfermeiras de um jeito canastrão.

O sinal abriu e olhei para trás. Ele acenou com euforia enquanto os carros se afastavam. Mais uma vez naquele dia sorri e acenei de volta.

Eu deveria ter lhe dado a nota de dez reais.

Por Lety

2 comentários:

Viviane Pinho disse...

Que lindo! Lindo, lindo, lindo!

10/3/12
Naiara disse...

E como faço agora??? Morri de inveja de você... morri de inveja do palhaço.

28/3/12